Qual foi a última vez que você teve uma ótima noite de sono? Aquela em que conseguiu deitar cedo, colocou a cabeça no travesseiro e só acordou na manhã seguinte? Para uma boa parte dos brasileiros, dormir bem está se tornando um sonho cada vez mais distante. Segundo uma pesquisa, 36% da nossa população se queixa de insônia recorrentemente.
Mas afinal, o que causa a insônia? Qual é o impacto que ela provoca em nosso organismo? Continue a leitura do artigo e descubra essas respostas!
O que é insônia?
A insônia é um distúrbio persistente do sono (ou dissonia), que pode se manifestar em diferentes períodos da noite. Assim, enquanto algumas pessoas têm dificuldade para dormir e ficam horas na cama até serem vencidas pelo cansaço, outras despertam várias vezes ou acordam muito antes do horário previsto, tendo seu descanso prejudicado.
Em todos esses casos, existe um fator comum: no dia seguinte, a pessoa tem a percepção de que sua noite não foi suficientemente reparadora. Ou seja, elas acordam ou se sentem cansadas, sonolentas. Observam que sua produtividade é reduzida e que existe uma queda na concentração e capacidade de memorização. Na verdade, existem diferentes tipos de insônia.
Veja como elas são classificadas:
Insônia primária ou inicial
Esse é o tipo de insônia mais comum. Ele acontece quando o período de latência, ou seja, o tempo que a pessoa leva para realmente começar a dormir, é maior. Talvez você já tenha passado por essa situação: rolar na cama por horas e horas até conseguir pegar no sono.
Em alguns casos, os pacientes com insônia primária também se queixam de que despertam várias vezes durante a noite. No dia seguinte, eles comumente reclamam de mal-estar, dificuldades de concentração, queda no rendimento no trabalho e sensação de cansaço.
Insônia de manutenção
A pessoa que apresenta insônia de manutenção ou fragmentada consegue dormir rapidamente. No entanto, ela acorda várias vezes ao longo da noite. Em muitos casos, existe a dificuldade para retomar o sono após cada interrupção. Assim, os ciclos e fases que envolvem nosso descanso completo não acontecem, trazendo uma série de prejuízos ao indivíduo.
Insônia terminal
A insônia terminal é aquela em que a pessoa acorda muito tempo antes do horário previsto e não consegue retomar o sono. É muito importante que os indivíduos que passam por essa situação com bastante frequência fiquem atentos, pois em alguns casos, esse é um dos primeiros sinais de depressão.
Sono superficial
Esse tipo de dissonia é relatado nos consultórios, mas com uma frequência menor. Algumas pessoas contam que conseguem dormir rapidamente e não despertam durante a noite, mas sentem que não tiveram o descanso apropriado. Segundo elas, existe a sensação clara de que o sono foi inquieto e superficial.
Quais são as causas da insônia?
A insônia é causada tanto por fatores orgânicos quanto psicológicos. No primeiro grupo, existem problemas físicos que impedem a pessoa de ter uma boa noite de sono. Em outros casos, são os estados mentais que atrapalham o descanso. Veja quais são eles nos quadros abaixo:
Portanto, além de todos os fatores físicos e biológicos, muitos dos hábitos da vida moderna dificultam o sono. Rotina corrida, televisão, nossa conexão permanente com computadores e smartphones tem tornado as nossas horas de descanso cada vez mais curtas.
A hiperexposição à luz também contribui para que nosso cérebro não perceba o momento de produzir os hormônios que provocam sono. No passado, quando as pessoas viviam em ambientes rurais, isso não era um problema. Ao entardecer, quando o sol desaparecia, a luminosidade do ambiente diminuía. A mensagem para o cérebro era clara: é hora de dormir.
Atualmente, nossos hábitos são diferentes. Quando o sol se põe, nós acendemos as luzes. Essa exposição continuada à luminosidade nos mantém “ligados”. Por isso, não é de se estranhar que 62% das pessoas admitam que não dormem direito e apenas 10% afirmam que conseguem ter ótimas noites de repouso.
Qual é o impacto da insônia no dia a dia?
Vale a pena destacar que o quadro de insônia é diferente de uma eventual noite mal dormida. Pode ser que muitos de nós tenhamos deixado de dormir em algum momento específico, por circunstâncias diversas: ansiedade diante de um acontecimento, dificuldade para conciliar horários durante uma viagem, para trabalhar ou estudar.
Embora não seja recomendado deixar de dormir por nenhum motivo, a perda esporádica de horas de sono não acarreta tantos problemas. É possível fazer os trabalhos rotineiros normalmente, embora seja um pouco mais difícil realizar tarefas novas, muito complexas ou desafiadoras.
Porém, quando a pessoa sofre com a insônia, as noites mal dormidas não são esporádicas — trata-se de uma situação que se manifesta por pelo menos 3 noites por semana e ao longo de um período mínimo de 3 meses. Nesses casos, realmente a pessoa tem uma perda considerável de rendimento, além uma série de outras consequências para o organismo. Entre os principais impactos da insônia no dia a dia e sobre a saúde, podemos destacar:
Cansaço e percepção de que o sono não foi suficiente
O sono é fundamental para o corpo e para a mente. Por isso, quem sofre de insônia sente bastante cansaço e sonolência diurna. A pessoa tem a percepção de que não dormiu o suficiente e passa o dia indisposta, realizando suas atividades com lentidão e apresentando prejuízos no raciocínio.
Alterações do humor
Como consequência, quem tem insônia tende a se sentir irritado, deprimido ou ansioso. Entre as várias pesquisas publicadas sobre este tema, um estudo da Universidade de Oxford, realizado com voluntários que dormiam bem — cerca de 8 horas ininterruptas por noite — se destacou.
Ele mostrou como a perda de sono causa mudanças emocionais. Esses voluntários foram submetidos à seguinte experiência em laboratório: durante três noites, puderam dormir normalmente. Nas três noites seguintes, foram interrompidos pelos pesquisadores e seu período de sono foi restrito a apenas 4 horas.
O comportamento dessas pessoas foi analisado por meio de questionários e também de vídeos gravados. O resultado foi impressionante. Em apenas 3 dias de privação de sono, os voluntários apresentaram aumento da ansiedade, depressão e estresse. Os pesquisadores notaram um crescimento no sentimento de desconfiança em relação a outras pessoas e até mesmo paranoia.
Apesar desse resultado, apenas 3 participantes disseram que se sentiram incomodados com a privação do sono. Todos os outros voluntários acreditavam que as poucas horas de sono não haviam impactado negativamente sua rotina. Isso mostra que, mesmo que a pessoa não perceba, a insônia altera seu humor e comportamento, prejudicando a saúde mental.
Perda de memória
Durante o sono, nosso cérebro classifica e arquiva as informações que recebemos ao longo do dia. Até então, elas estão guardadas na memória de curto prazo. Enquanto descansamos, esse órgão seleciona os fatos relevantes e os armazena na memória de longo prazo, para que sejam relembrados depois.
Quando não conseguimos completar os ciclos de sono necessários para esse processo, temos perdas de memória. E não é essa a única função cognitiva afetada: focar a atenção, concentrar-se em um projeto, avaliar diferentes variáveis de uma situação também se torna mais difícil.
Queda na produção do hormônio do crescimento
O hormônio do crescimento é fundamental não só para as crianças e adolescentes, mas também para os adultos. Embora nossa altura já não aumente mais, essa substância possibilita a formação de massa magra, ou seja, dos tecidos que compõem os músculos, ossos e órgãos.
Quando não temos o sono reparador, acontece uma queda na produção desse hormônio do crescimento. Logo, o organismo começa a não repor a massa magra na proporção adequada. O tecido muscular se torna reduzido, o que inclusive dificulta a manutenção de um peso saudável ou o processo de emagrecimento.
Dificuldade para emagrecer
E por falar em emagrecimento, a falta de sono também provoca um desequilíbrio na produção de grelina e leptina. A leptina é o hormônio que, após comermos ou no intervalo entre uma refeição e outra, sinaliza para o cérebro que estamos satisfeitos.
A Dra. Abigail Ballone, especialista em Medicina do Estilo de Vida, explica que a falta de sono prejudica a produção de leptina. Segundo ela, “se você não dorme bem à noite, existe a tendência de não sentir tanta saciedade durante o dia”. De forma contrária, o corpo aumenta a produção de grelina, e temos a sensação de fome com maior frequência.
Então, se você está tentando emagrecer ou lutando para perder o peso, mas tem dificuldade para se manter na dieta porque sente fome constantemente, essa pode ser a causa do problema. Quantidade e qualidade do sono são importantíssimas para equilibrar a produção desses hormônios e facilitar seu processo de emagrecimento.
Redução da imunidade do corpo
A insônia pode trazer ainda outro problema. Diante da privação de apenas algumas horas sono, pode haver uma redução de até 70% nas células de defesa do organismo conhecidas como natural killers. Elas são responsáveis por identificar invasores (vírus, bactérias, toxinas) e eliminá-los do organismo.
A explicação para isso é a alta liberação de cortisol que acontece quando nos privamos do sono. Esse hormônio, embora seja muito importante para nos deixar ativos e provocar reações rápidas (especialmente em casos de perigo), eleva o nível de estresse. Quando produzido em excesso, ele reduz a ação dos nossos anticorpos, deixando o corpo vulnerável. Para você ter uma ideia do impacto da privação de sono sobre a imunidade, veja os resultados de um estudo recente:
- a privação de sono fez com que pessoas que tomaram a vacina contra hepatite A tivessem sua produção de anticorpos (células de defesa) reduzida em 50%;
- pessoas que dormem menos de 5 horas por dia têm um risco de pegar resfriados 4,5 vezes maior que as pessoas que têm sono em quantidade adequada (entre 6 e 8 horas por noite).
Esses são apenas alguns exemplos. O fato é que quem sofre de insônia ou se priva das horas de descanso fica com o organismo desprotegido. Dessa forma, se torna mais susceptível às doenças inflamatórias e infecciosas, que podem variar desde um leve resfriado a problemas sérios, como herpes, hepatites e tuberculose, entre outras.
Aumento no número de acidentes
A falta de sono prejudica a atenção e a memória. Consequentemente, pessoas que relatam insônia estão mais sujeitas a acidentes de trânsito, domésticos e de trabalho. Estudos mediram o desempenho cognitivo de voluntários em jogos e tarefas após 8 horas completas de descanso e também depois de uma noite em que puderam dormir apenas 4 horas.
A pontuação desses voluntários nos jogos e tarefas diminuiu drasticamente depois de serem privados do sono. Além disso, eles fizeram tomografias na manhã seguinte a cada uma dessas noites. O fluxo de sangue no cérebro após o período insone foi muito reduzido, revelando um nível de atividade cerebral baixíssimo.
Portanto, esses estudos mostram que, depois de uma noite mal dormida, a atividade nos lobos frontal e parietais ficam extremamente reduzidas. Essa condição afeta a memória, a capacidade de solucionar problemas e a tomada de decisões. Isso explica por que os acidentes se tornam mais comuns quando os indivíduos estão com sono.
Mesmo que eles efetivamente não durmam ao volante ou operando uma máquina no ambiente de trabalho, a reação a qualquer imprevisto é mais lenta, aumentando os riscos dessas atividades.
Maior incidência de problemas cardiovasculares e outras doenças crônicas
Quem dorme menos de 5 horas por noite aumenta o risco de doenças cardiovasculares. Além do estresse, que geralmente é um dos causadores de insônia, a falta de sono faz com que os vasos sanguíneos fiquem mais rígidos.
Assim, a possibilidade de desenvolver hipertensão arterial (pressão alta) se torna até 5 vezes maior, o que consequentemente impacta na incidência de infarto.
Outras doenças crônicas também podem aparecer como consequência da insônia. Uma delas é o diabetes tipo 2. Estudos mostraram que o organismo tem dificuldade para liberar hormônios relacionados ao controle da glicose no sangue quando não acontece o descanso típico dos estágios mais profundos do sono.
Por todas essas razões, combater a insônia e dormir bem é um dos remédios naturais mais importantes para restaurar a saúde e prevenir doenças. Sono em quantidade e qualidade adequadas favorece a qualidade de vida, a produtividade no trabalho e a felicidade.
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