Em pleno século XXI, infelizmente precisamos admitir que os transtornos mentais ainda são cercados por tabus. O paciente que enfrenta uma doença que afeta seus pensamentos e sentimentos, além do sofrimento causado pela patologia, frequentemente se sente incompreendido pelas pessoas com as quais convive, como familiares e colegas de trabalho.
Muitas vezes, o comportamento inadequado de quem convive com um paciente com transtornos mentais é cheio de boas intenções. Porém, por falta de conhecimento sobre esses problemas e a melhor forma de ajudar essas pessoas gera comentários maldosos ou inconvenientes, agravando o sofrimento.
Essa falta de compreensão traz uma série de consequências para o paciente com transtornos mentais. Ele recebe rótulos (louco, fraco, incapaz) e pode ter receio de procurar o tratamento por medo de ficar viciado em remédios psiquiátricos ou devido à possibilidade de carregar esse estigma ao longo da vida.
Por todas essas razões, acreditamos que informação é fundamental para favorecer a saúde mental dos indivíduos. A partir do momento em que quebram esses tabus, as pessoas se sentem livres para buscar o tratamento necessário, recuperar sua produtividade e principalmente, a qualidade de vida.
Então, vamos desvendar esses mitos? Começaremos com uma breve explicação sobre os transtornos mentais e falaremos sobre as principais ideias equivocadas sobre essas patologias. Acompanhe!
O que são transtornos mentais?
Segundo a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), a pessoa com transtornos mentais apresenta uma combinação de pensamentos, percepções, emoções e comportamentos anormais. Essas alterações afetam a forma como o paciente enfrenta as situações da vida e pode causar dificuldades em suas atividades diárias ou em seus relacionamentos.
Alguns dos transtornos mentais mais comuns são:
- depressão;
- transtorno de ansiedade generalizada (TAG);
- transtorno afetivo bipolar;
- transtornos de desenvolvimento (incluindo o autismo);
- esquizofrenia e outras psicoses;
- demência;
- deficiência intelectual.
Quais são os principais mitos sobre os transtornos mentais?
Como podemos perceber, os transtornos mentais envolvem um espectro muito amplo. Os sintomas e dificuldades enfrentados pelos pacientes variam não só devido à diversidade dos diagnósticos, mas também porque podem apresentar graus diferentes de comprometimento.
Apesar de todas essas diferenças, não é incomum essas pessoas receberem rótulos. Esse estigma se baseia principalmente em alguns mitos que, com um pouco mais de conhecimento sobre o assunto, deixariam de existir. Selecionamos alguns que são frequentemente relatados por nossos pacientes. Confira a seguir!
Pessoas com transtornos mentais são loucas
Transtornos mentais são patologias como as outras, e surgem devido a uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Portanto, assim como uma pessoa pode ter diabetes, hipertensão, artrite reumatoide ou câncer, também é possível desenvolver uma doença psiquiátrica.
O fato de uma pessoa ter essas alterações nos pensamentos, sentimentos, emoções e comportamentos não a torna louca. Ela simplesmente está manifestando os sintomas de uma doença que, se for tratada de forma adequada, permite que os pacientes retomem suas atividades normais e tenham uma vida tranquila e satisfatória.
Pessoas com transtornos mentais não conseguem levar uma vida normal
Como nós observamos, os problemas de saúde mental são muito variados. Eles incluem as demências ou transtornos do desenvolvimento como o autismo, por exemplo. Por isso, é possível que o paciente tenha algumas funções comprometidas quando a doença manifesta um grau mais avançado e necessite de assistência dos familiares.
Porém, a maioria dos pacientes com transtornos mentais leva uma vida normal. Para que você tenha uma ideia, um estudo feito em quatro capitais brasileiras mostrou uma alta incidência dessas doenças em cidades como Rio de Janeiro (51,9%), São Paulo (53,3%), Fortaleza (64,3%) e Porto Alegre (57,7%).
A maior parte dessas pessoas trabalha, estuda, forma família e convive com amigos normalmente. Apenas em estágios mais avançados da doença elas se tornam incapazes de realizar suas atividades diárias. No entanto, elas sofrem internamente devido a esses transtornos mentais, e também precisam e merecem um tratamento que melhore sua qualidade de vida.
Psiquiatras só atendem os casos graves
Os psiquiatras diagnosticam e tratam pacientes com transtornos mentais, desde aqueles que se manifestam de forma sutil quanto os casos de sofrimento emocional intenso.
Portanto, qualquer pessoa que comece a perceber que alterações em seus pensamentos, emoções e comportamentos estão prejudicando sua vida profissional e relacionamentos deve procurar esse especialista. O tratamento precoce, além de mais eficaz, evita que os problemas se agravem e tenham consequências mais sérias.
Quem sorri e leva uma vida normal não tem transtornos mentais
Nem todas as pessoas com transtornos têm um comportamento introspectivo e demonstram tristeza. Essas pessoas podem sorrir, brincar com os amigos e familiares e até mesmo terem uma vida muito produtiva, mesmo passando por um grande sofrimento interno.
Essa realidade é vista nos consultórios de psiquiatras e psicólogos, que sabem há muito tempo que um sorriso no rosto pode mascarar um sofrimento profundo. O problema se tornou público depois que vários comediantes vieram a público e contaram que sofrem de depressão há anos.
Remédios psiquiátricos viciam
Entendemos que a mudança no estilo de vida é o principal fator de cura para as doenças. No entanto, pode ser que a pessoa chegue ao consultório médico com um quadro depressivo que exige a prescrição de remédios, pelo menos em um primeiro momento.
Os remédios psiquiátricos evoluíram bastante. Por isso, atualmente há medicamentos que não deixam a pessoa dopada e nem dependente das substâncias utilizadas na medicação. Por isso, quando prescrita pelo psiquiatra, ela deve ser utilizada de acordo com a recomendação.
No entanto, entende-se que o tratamento dos transtornos mentais vai muito além dos remédios. Ele exige uma abordagem multidisciplinar, em que outras terapias e mudança de hábitos contribuem para restaurar plenamente a saúde e, em diversos casos, eliminar a necessidade de medicamentos.
Basear o tratamento apenas em remédios ameniza os sintomas, mas não soluciona as causas do problema. Por isso, é necessário abordar o problema de forma sistêmica e sempre orientar a pessoa a realizar mudanças em seu estilo de vida.
Força de vontade é a cura para os transtornos mentais
Pessoas que se interessam pelo bem-estar dos pacientes com transtornos mentais costumam oferecer conselhos que, embora bem intencionados, não correspondem ao tratamento adequado para esses problemas. Algumas das mais comuns são:
- “Você poderia fazer um esforço para melhorar!”
- “Esqueça o problema e tudo vai dar certo.”
- “Simplesmente olhe para o lado positivo da vida.”
- “Se você ficar aí deitado, nunca vai melhorar.”
Essa não é a melhor forma de ajudar um paciente com transtornos mentais. Eles realmente precisam de acompanhamento médico e outras terapias complementares. Portanto, a atitude correta é encaminhá-lo ao tratamento adequado e ajudá-lo a seguir as prescrições de especialistas.
Pacientes com transtornos mentais são fracos ou preguiçosos
Em alguns estágios, os transtornos mentais podem realmente se tornar incapacitantes. Quando chegam a esse ponto, alguns pacientes não conseguem trabalhar, realizar as atividades diárias e nem mesmo cuidar da higiene pessoal. É importante que as pessoas que convivem com ele entendam que não se trata de fraqueza moral ou preguiça, mas de uma doença.
Nesses casos, é fundamental encaminhar o paciente ao tratamento adequado. Acusações não o ajudarão a restabelecer sua saúde, mas compreensão, acompanhamento médico e apoio permitirão que ele retome suas atividades e reconquiste uma boa qualidade de vida.
E você, acreditava em algum desses mitos sobre os transtornos mentais? Quer saber mais sobre o assunto? É só nos acompanhar no Facebook, Instagram e Pinterest para ver nossas publicações em primeira mão e não perder nenhuma novidade!